quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Pensamento torto

Passei muito tempo sem escrever. Os compromissos da vida nos fazem ficar mais intensos em coisas que talvez não mereçam tanto nossa atenção.. O jogo é conseguir entender o que realmente importa e direcionar as energias para os lugares certos. Canalizar o vulcão que somos pra atingir o que queremos.

Desde que parei com o blog, as mudanças foram tantas que não vou me dar ao trabalho de apagar os textos antigos, muito menos de ler o que escrevi antes. Talvez ache engraçado, talvez um lixo. O fato é que aqui eu escrevo o que tenho em mente, sem edição, sem antecedência ou tema. É agora, é hoje. Amanhã pode não ser, mas foi um dia, uma ideia que eu quis registrar.

Nas andanças, sempre agradeço pelas mudanças, pelas dificuldades. Elas nos elevam ao próximo nível, como passar uma fase, ganhar uma insígnia nova. Os problemas são as motivações. Algumas vezes me pego pensando que a vida é um jogo de resolução de problemas. Seja da maneira que preferir resolver os seus, o importante é tentar. E conseguir.

Tenho uma dificuldade enorme em focar em outras coisas quando coloco uma meta, um objetivo na minha frente. Desde pequeno, quando queria aprender algo, eu ia até o fim, do fim, do fim... Ainda hoje, quando foco em alguma atividade, profissional ou não, eu pesquiso, estudo, leio, disseco e espremo o limão até conseguir entender, reproduzir ou executar, nem que seja uma vez.

É claro que nem sempre isso é saudável. Já tive problemas por não saber a hora de descansar, a hora de ouvir e a hora de respeitar a mente e o corpo. Algo que talvez seja cíclico e nunca acabe, mas pelo menos consigo prever na maioria das vezes.

Sempre precisei escrever pra me livrar de pensamentos enormes e longos que habitam minha mente. Hoje, mesmo conseguindo filtrar melhor minhas opções, às vezes eles aparecem com vida própria. É por isso que pretendo voltar com os textos, talvez compartilhar de ideias que muitos de vocês também têm mas não encontram um lugar pra compartilhar, ou sentem vergonha.

Minha regra para o blog vai continuar sendo a mesma: não há regras. Posso escrever sobre balé clássico ou sexo selvagem. Quero migrar entre os diversos pensamentos que eu tenho guardados e opiniões que foram se formando, outras que estão em transformação.


Obrigado por ler, muita luz.

Diogo Ferrari


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"Mil Grau"

Banho de sal grosso. Vou me rezar..

Talvez precise responder alguns e-mails na caixa de entrada, mas.. desculpe. Paro por aqui e amanhã é outro dia.

Sortudo. Porra, não reclamo! Nem acho certo.. tenho raiva de quem fica lamentando. Vou e faço, não consigo prestar atenção em quem fala teoria, muito menos viver nela. Como uma tatuagem, você não aprende olhando o tatuador. Tem que pegar na máquina e fazer.

Tem horas que é melhor parar. Desligar celular, pegar um bom livro.. "E assim falou Zaratustra" é o da vez. Comprei faz uma cara e não havia lido ainda por preguiça da linguagem. Mas recomendo.

"Respeito vem na frente do dinheiro". Racionais bombando a caixa há um tempo.. respeito por Mano Brown, tem que ser poeta SIM pra falar da rua. Criolo também ta na mira, segue o caminho.

Por muitas vezes entro em um ritmo frenético.. pode ser de trabalho, de exercícios ou encanado com alguma coisa.. e sair dela requer uma boa destreza que eu só estou pegando a manha agora.

É isso! Fico muito tempo em cima da mesma coisa até dissecar tudo que posso.. acho que são os fios de cabelo branco aparecendo.

Aprendi tanta coisa nesse tempo fazendo tatuagem que tento sintetizar quando fico pensativo. Histórias de pessoas que passaram e passam por mim.. aprendi muito mais do mundão do que muita gente que se diz dele. Aprendi sobre a lei da selva.

Cada vez mais admiro o silêncio. E é com ele que eu vou agora, chega de barulho por hoje.

Obrigado




sábado, 9 de novembro de 2013

Inferno

Tomei dois goles de sono. Acho que era por volta de uma da manhã, talvez uma e meia.

Me aprofundei na escuridão que tinha tomado conta dos meus olhos. Talvez pelo tapa-olhos que uso pra dormir.. Qualquer claridade nessa hora me atrapalha.

Acontecimentos do dia me deixaram fora de órbita, comecei a caminhar por lugares estreitos, amplos. Tudo junto. Tudo escuro. Podia ouvir gritos, ver vultos. Cavei mais da terra onde pisava e fui descendo pela lama, apesar de eu estar seco.

Meu estômago revirava em loopings loucos. Não sabia ao certo onde estava, porque estava e o que eu era realmente naquele momento. Eu era forma, eu era escuro. Era nada.

Coração em batimentos calmos, apesar da mente funcionar ao contrário. Fui percebendo aos poucos que a baixa claridade me mostrava. Eram silhuetas, precisava compartilhar isso com alguém. Mas estava sozinho. Eu era sozinho. Sabe aquele lance de que nascemos e morremos sós? Foi assim. O sentimento era real.

Apesar de não querer, ia adiante, sempre rumo ao desconhecido. As silhuetas iam tornando-se mais claras, mais reais. Pude ver orgias, violentos encontros de corpos que moviam-se ao desespero, ao despreparo. A confusão era generalizada, embora um tanto organizada.

Sem consciência do que estaria fazendo ali e aonde exatamente o "ali" ficava, pude degustar da solidão escura. Não senti medo nem por um minuto. Mas sentia um peso estranho, precisava me livrar daquilo o mais rápido possível.

Me lembrei de pensamentos do meu dia. Confusos com as vozes de lembranças recentes, pensei estar errado, pensei estar exagerando. Mas não pensei estar louco. Não estava!

Aterrorizantes sentimentos de inércia e impotência eram piores do que as visões do lugar onde eu estava. Mas sabia que poderia sair de lá a qualquer momento, no MEU momento. Eu sairia e ficaria tudo bem.

Experimentei o gosto da escuridão. Ao mesmo tempo que me senti só, senti que era um caminho que precisava seguir, sabia me guiar. Sabia me controlar, mas precisava daquela limpeza. Sim, era uma limpeza.

Talvez pra ver que existem coisas piores, assim daria mais valor para os meus poucos problemas.

Me exorcizei. Renovei.

Acordo limpo, apesar da dor no estômago. Estou novo, mais forte que antes.


**Hoje, em especial, agradeço a querida Marly, minha professora de redação na época do colégio, que me dava a maior força e apoio. Faleceu nesta madrugada e dedico meus sentimentos a essa pessoa maravilhosa que foi. Meus sinceros AGRADECIMENTOS. Você foi importante na minha caminhada.



quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pela fechadura

Pensou ter visto alguém passar. Chegou mais perto da porta, o corredor estava escuro pois não conseguia dormir com nenhuma luz ligada. Foi bem perto da fresta que se apresentava pra fora do quarto e colocou o rosto pra fora. Fitou um tempo o escuro.

Seus olhos se acostumavam com a escuridão da sala enquanto pensava ser coisa da sua cabeça. Mas a confirmação era um desafio. Sempre intriga um vulto dentro da sua própria casa. De fato, seus olhos não se acostumavam muito bem com a falta de iluminação.

Voltou, fechou a porta e caminhou até a cama. Pensativo. Mas uma pequena luz adentrou pela fechadura da porta. E sumiu. Correu até a porta e colocou um dos olhos na fechadura. Podia ver, e claro que não acreditava nisso, uma cena quase que burlesca. Cinta liga, meia calça, apenas. Na pequena poltrona da sala a mulher de pele lisa e macia se divertia sozinha.

Quase abriu a porta. Mas preferiu observar. A mulher estava na sua poltrona, aquela de assistir TV. E tocava-se quase que com perfeição. Coçou os olhos, que ardiam por não piscar diante da cena. Estar louco é bem diferente de ser louco. E foi nesse primeiro pensamento que acreditou estar bem longe da realidade.

Do outro lado da fechadura, não muito longe dali, aquela mulher ousada apoiava-se com uma das pernas no braço da cadeira. Divertia-se como se estivesse em sua própria casa, vez ou outra olhava em direção à porta, com vontade.

Do lado de trás da fechadura, sentia uma enorme vontade de abri-la. Por pouco não o fez. Tinha medo de aquela mulher na poltrona fosse embora, nunca mais voltasse. Enxergou unhas pintadas, que iam e vinham em movimentos orquestrados, excitantes. As mãos e nada mais. Desempenhavam um papel que ninguém mais ou nada mais poderia cumprir.

Vidrado, de boca aberta, concentrava-se e entrava na mesma onda gostosa da mulher enigmática. Ela parecia sentir o que ele sentia, tocar onde ele queria tocar. Foi assim que ficava mais à vontade, sorria de lado, apoiava as duas pernas nos braços da poltrona e olhava diretamente para a fechadura da porta.

Não era para a porta ou para a direção. Era nos olhos dele, do lado de dentro. Onde queria que ela estivesse.

E mesmo estando separados por alguns metros e uma porta fechada, a energia podia ser sentida, o calor e o suor. O movimento dos lábios e da língua aguçavam os sentidos e seus olhos, ela sabia o que fazer, entendia de alguma forma aquele poder. Jogou a cabeça pra trás, de leve. E assim ficou por mais um tempo. Mãos, unhas, cheiro e pele formavam aquela cena toda. Suspirou forte.

Do lado de trás da porta, também ofegante, conseguiu fechar os olhos por um segundo. Quanto os abriu novamente, ela não estava mais lá. A burlesca sabia que não podia alcançá-la. A burlesca sabia o que fazer e o fazia bem. Até de longe, levava jeito.